07 maio 2016

LIVRO - O SILÊNCIO DA PENHA (JAMAIS TE CALAS)



Maria Sanchez Penha conheceu o ex-marido na melhor época da sua vida. Ela tinha quinze anos; ele, vinte e cinco. No começo o que se predominava eram as juras de amor. Maria estava apaixonada, ou cega, como diria mais tarde, mas o amor é mesmo assim: Indecifrável no começo, trágico no fim. Eles faziam planos a curto médio e longo prazo e Maria se encantava com tudo que ele dizia e planejava. Brigas, discussões, são normais nos casais pensava Maria e com uma boa lábia, ele sempre trazia a situação sob seu controle depois de uma briga. Até então, as ameaças não faziam parte da rotina do casal – Até então. Certa vez fizeram uma viagem. Foram a uma praia e foi ali que a situação pareceu que começaria a fugir do controle: Depois de uma sucessão de brigas, Maria ameaçou deixá-lo. Ele a levou para um penhasco e garantiu que a mataria caso o relacionamento chegasse ao fim. Mesmo depois desse e de novos episódios semelhantes acontecidos, os dois resolveram morar juntos:


          - Querendo ou não, eu gostava dele, justificava Maria.

           Maria “achava” que ele poderia mudar.

São coisas do amor, ainda mais quando é cego, mas o que é o amor? Pergunta sem resposta. Quem sabe é o coração. A primeira agressão física aconteceu numa noite de Natal. Imaginem só, bem numa época em se prega o amor e a alegria entre pessoas que se amam. Maria levou uma cabeçada do marido que a fez desmaiar. Quando acordou, foi impedida de ir para a casa dos pais pelos cunhados, cúmplices das inúmeras outras agressões que ela viria a sofrer. Teve que ir para a casa que dividia com o marido. A partir daí, chutes, socos, empurrões e ameaças de morte se sucederam:

           - Eu pedia para nos separar; ele chorava muito, dizia que ia mudar. Fui levando.

 Eles continuaram juntos e tiveram um filho. Numa ocasião, chegaram a ficar separados por dois anos, e Maria, certa vez, teve de ficar hospedada na casa da sogra, pois o filho faria uma cirurgia. Com isso o casal voltou a viver juntos. Depois, quando Maria decidiu aceitar um emprego, despertou a fúria do marido. Ele subiu em sua barriga e a socou vigorosamente. A sogra assistiu à cena, imóvel:

           - Quando meu marido terminou de me bater, minha sogra disse que a culpa era minha.

          Maria se mudou, mas não conseguiu completar nem um mês no apartamento arranjado pela amiga. Em outra ocasião, ele tentou matá-la com uma faca. Conseguiu fugir e se escondeu na casa de uma amiga. Maria então resolveu denunciá-lo, uma, duas, tantas vezes, mas as ameaças continuaram, apesar das ordens judiciais de que ele deveria se manter afastado dela por certa distância, das ameaças da polícia de prendê-lo, e a vida de Maria passou a ser um tormento ameaçador, a todo o momento fugindo, com medo e se escondendo de seu grande amor.
SINOPSE DO LIVRO

LIVRO - ALGUMAS PALAVRAS IV - TODAS AS MÃES

MÃE DE RUA
Daquela vez ela não quis nem saber e o fez dormir fora da casa humilde, de madeiras, forrada com placas de papelão para aliviar o frio que castigava as noites intermináveis. O vento e os respingos da chuva que invadia o pequeno cômodo faziam com que o menino, trêmulo, se afagasse no corpo da mãe mesmo debilitada e drogada, bêbada igual marido zumbi moribundo, “envenenados” na loucura das drogas e do álcool. E qual exemplo teria aquele menino que assistia de olhos arregalados àqueles filmes diários de perdição, melancolia e desespero? Mas o menino não se cansava de suplicar a Deus para que um dia tudo aquilo pudesse acabar e quando acabasse não seria também um morador de rua como sua mãe, como seu pai, e nem estaria envolvido com aquelas drogas pesadas – sonhava com dias melhores. Ele não queria ser um menino de rua, e sim, um homem com identidade e digno para viver. Que Deus possa me ajudar, dizia o menino, pois não queria se perder feito sua mãe e não queria ser um morto vivo como seu pai. Quando o pequeno menino se deparou novamente com sua mãe completamente drogada, suja, maltrapilho, poderia ignorar, chorar, correr... Desprezar, mas sua Mãe de Rua antes de se perder o ensinou a amar, ensinou que existe amor e que o amor pode ser pequeno, grande ou infinito. O pequeno menino não tinha forças, não conseguiria tirar sua mãe das ruas apenas com seu corpo físico, mas poderia tirar com os olhos que refletem e refletiam o amor através do coração, e isso ele conseguiu, mesmo que por um instante, até a próxima abstinência ou recaída, mas para o menino o que mais valia era “apenas” um instante de amor, para ter a certeza de que o amor existia.
- Ó meu Deus todo poderoso e misericordioso! Eu enxergo o amor nos olhos da minha mãe, mas parece que o amor está preso, acorrentado, prisioneiro deste vício maldito. Mas as lágrimas da minha Mãe de Rua ainda pode ser o remédio da compaixão, da esperança, da perseverança. Enquanto eu tiver forças não vou abandonar a minha mãe e sei que ela está fazendo de tudo para não me abandonar, para não abandonar a si mesma, e é por isso que acredito no amor acima de tudo. Mas, se o amor perder a guerra, na certa eu vou chorar. Minha mãe de rua vai padecer, escafeder-se, mas mesmo assim não vou abandonar o meu Deus todo poderoso, não vou achar que meu Deus me abandonou, pois apesar de menino, eu tenho a consciência de que fiz o melhor e essa lição vou levar para a vida inteira, pois sei que meu Deus me ama e se me deu esse peso, essa sina, é porque fui escolhido como a “pessoa certa”, amém!
TRECHO DO LIVRO