19 dezembro 2020

PARA AUDREY, COM AMOR!

Os preparativos para a festa de formatura estavam avançados e os alunos ansiosos, sentimentais nas conversas e nas reuniões de despedida.  Muitos mudariam de cidade em busca de uma colocação profissional e outros, como Jonathan, atravessaria o oceano para estudar, se aperfeiçoar num intercâmbio graças à bolsa de estudos que ganhou classificado como um dos melhores alunos da universidade federal. Jonathan estava muito feliz pela oportunidade de estudar, ainda mais sabendo que depois de dois anos voltaria com a garantia de um excelente emprego numa empresa multinacional. Entretanto, não escondia sua preocupação com Audrey, que prometeu esperá-lo para se casarem. Audrey estava em tratamento de uma doença rara, que prejudicava sua coordenação motora, cujos médicos ainda não tinham um diagnóstico preciso. Assim sendo, preferiu adiar seu intercâmbio e Jonathan iria sozinho. Mas, o mais importante naquele momento foi o baile de formatura, comandado pela orquestra municipal, alunos formandos e seus familiares estavam felizes e se confraternizando pelo diploma e pelo objetivo conquistado. Um a um, os casais de alunos eram anunciados pelo mestre de cerimônias e sob palmas e vivas passavam por um corredor para receber os comprimentos em meio aos flashes que registravam todos os momentos da festa, para ficarem guardados para sempre. Quando Jonathan segurou na mão de Audrey ao serem anunciados, sentiu a emoção da despedida. - Atenção formandos para a hora da valsa! O mestre de cerimônias anunciava o momento da valsa. A primeira seria com o pai ou mãe, depois padrinhos e a terceira seria para os casais enamorados. A hora da despedida estava chegando e todos estavam emocionados e talvez tenha sido por isso que Jonathan não tinha dado importância ao fato de que Audrey estava tremendo, quando segurou em sua mão para dançarem. Durante a valsa os olhos de Jonathan e Audrey ficaram perdidos, filmando todos os detalhes que fariam parte de uma saudade breve e ansiedade pelo regresso que um dia iria chegar. Os olhos de Audrey se fixaram nos olhos de Jonathan, que se preocupou quando sentiu todo peso de Audrey em seus braços. A música entoava uma harmonia agradável e romântica que os olhos de Audrey abriam e fechavam, contemplando um largo sorriso adocicado em seus lábios de mel. - Você está se sentindo bem? Bastou Jonathan questionar Audrey que ela caiu, literalmente, em seus braços. Parecia desmaiada. A música parou e todos se assustaram com a cena. Audrey ficou sem movimentos e desacordada. Logo a levaram para longe dali e a orquestra voltou a tocar para que não deixasse um ar de preocupação ainda maior entre as pessoas. Uma ambulância logo chegou e levou Audrey para um hospital.  Chegando, foi removida imediatamente para uma UTI, tendo Jonathan sempre ao seu lado. Das crises, aquela havia sido a mais preocupante, a que deixou os pais de Audrey e Jonathan mais preocupados. Quatro dias se passaram e Audrey não demonstrava nenhuma reação.  Enquanto aquilo acontecia, os médicos repetiam as baterias de exames, mas sem chegarem a um diagnóstico preciso e concreto. Todos ficaram preocupados e Jonathan posicionou a todos que adiaria a viagem. Não teria condições psicológicas para viajar para o outro lado do mundo e deixar Audrey naquele estado. Depois de quinze dias Audrey acordou. Ficou consciente, reconheceu a todos e ficou preocupada por não ter visto Jonathan ao seu lado. Jonathan ficou muito cansado, passou dias e noites no hospital ao lado da mulher amada e tinha ido para casa, tomar banho, trocar de roupa para voltar novamente ao hospital e ficar ao lado de Audrey. Ao vê-la consciente novamente, disse a ela que nada era mais importante que sua saúde e que havia tomado uma importante decisão: - Audrey, não vou mais viajar. Não posso ficar longe de você e não vou me dar bem do outro lado do mundo sabendo que você não está bem aqui. Por mais que Jonathan tenha relutado em ficar, foi convencido pelos familiares e pela própria Audrey a ir embora em busca do seu sonho de realização profissional: - Ficarei bem meu amor. Ficarei te esperando até sua volta. Vá e realize seu sonho. Disse Audrey na despedida. Jonathan partiu preocupado e com lágrimas nos olhos. Audrey teve uma razoável melhora, mas sua doença ainda era um mistério para os médicos. Algum tempo se passou e Audrey começou a lecionar numa escola particular de línguas. Conversava com Jonathan no máximo duas vezes por semana. Jonathan por sua vez, tinha uma vida atribulada de estudos e estágios e pouco tempo de lazer. Quando sobrava algum tempo tinha que descansar para poder enfrentar a maratona pesada de trabalhos e estudos, mas estava satisfeito, porém com muita saudade da família e principalmente de Audrey. Quando existe a saudade no coração, o tempo é cruel e custa a passar. Nos momentos em que ficava só e isolado, Jonathan recordava com amor dos momentos felizes que passava com Audrey, mas ficou mais despreocupado, pois houve uma boa melhora na saúde da mulher que tanto amava. Perto de completar um ano distante de Audrey, Jonathan ligou para dar uma excelente notícia: Passaria o natal com ela e toda família graças a uma semana de férias antes de iniciar seu ultimo ano de intercâmbio. Audrey não se coube de tanta alegria e não via a hora de chegar o dia de reencontrar seu grande amor. Quando Jonathan chegou, a casa estava toda harmoniosa, com enfeites natalinos e ao ver Audrey à distância, correu até que pudessem se abraçar: Jonathan e Audrey se abraçaram e se beijaram no reencontro e não quiseram perder um só minuto para ficarem juntos e aproveitarem o pouco tempo que teriam antes de Jonathan retornar aos estudos. Muitos planos estavam fazendo para depois do último ano em que Jonathan concluiria seu intercâmbio e voltaria de vez para uma vida nova junto de Audrey. Assim, as festas de natal passaram depressa e Jonathan teria de retornar. Audrey lhe fez um pedido antes de partir: - Quando se aproximar a data do seu retorno, plante uma flor, espere ela brotar e traga-a para mim num pequeno vaso. Jonathan disse que atenderia o pedido de Audrey, sem mesmo perguntar o porquê e partiu.Passado um tempo Jonathan recebeu a notícia de que Audrey havia tido novas crises e que tinha ficado internada. Jonathan se desesperou, ameaçou largar tudo é vir ao socorro dela, mas foi convencido a ficar. Jonathan ficou desconfiado de que estavam lhe escondendo algo sobre a saúde de Audrey e isso fez com que começasse a ter níveis mais baixos de avaliação onde fazia estágio e estudava. Novas crises apareceram e Jonathan sentia que algo grave estava ocorrendo com Audrey. - Os médicos descobriram a doença e ela está internada e sendo tratada. - Eu quero falar com ela! - Quando for o momento e os médicos assim permitir você falará com ela! E quando chegou o momento em que Jonathan conseguiu falar com Audrey, sentiu que estava dispersa, falando coisas sem sentido, mas lembrou-se da flor e pediu que Jonathan não esquecesse de trazê-la. Finalmente chegou o dia de Jonathan regressar, de reunir os dois lados. Em sua bagagem o sucesso de um intercâmbio perfeito, emprego garantido e possibilidade de concretizar todos os planos que fez, ao lado de Audrey. Seu pensamento positivo fazia com que ele imaginasse encontrar Audrey bem, curada de sua enfermidade e feliz, correndo para abraçar e beija-lo, matando a saudade de seu grande amor. Jonathan segurava a flor amarela com o maior cuidado, como se fosse um prêmio, um troféu, um objeto de devoção. Lembrou-se que poderia escrever um cartão para colocá-lo junto com a flor, e assim o fez: - Por favor, quero comprar um cartão de presente! - Sim senhor! Pode escolher entre esses! - Eu gostei deste! - O senhor vai escrever alguma coisa? - Sim. Escreva por favor: Para Audrey, com amor! O voo que trouxe Jonathan de volta teve vários atrasos, várias conexões e o tempo que ficou incomunicável foi de quase três dias. Ao chegar, estranhou que ninguém estava lhe esperando no aeroporto. Pegou um táxi e seguiu para casa. No caminho sentiu um calafrio, suas mãos ficaram geladas, assustou como se um vulto tivesse passado à sua frente e segurou com mais cuidado a flor amarela que carregava. Chegando em casa não tinha ninguém de seus familiares e dos familiares de Audrey lhe esperando. Chegou a chamar por eles, mas ninguém respondeu. A casa estava vazia, nem os cachorros estavam latindo como de costume, até que apareceu um senhor de quem Jonathan não conhecia e que lhe entregou um bilhete com um endereço, onde alguém pedia que fosse imediatamente até o local assim que chegasse: - Meu amigo, vá depressa antes que seja tarde! Disse o desconhecido. Jonathan se desesperou, mas continuou segurando com todo o cuidado a flor que Audrey lhe pediu. O táxi demorou a chegar aumentando ainda mais a ansiedade de Jonathan que depois, questionado pelo motorista do porque estava chorando, disse-lhe que estava com a sensação de ter perdido um pedaço de seu coração e de sua alma. E ao chegar no local determinado no bilhete, Jonathan adentrou ao recinto. Ouviu choros e gemidos. Não quis olhar no rosto de ninguém antes de ver Audrey. Jonathan estava sereno, como se estivesse sendo guiado por uma força suprema, divina, como se estivesse sendo emanado por um raio de luz. Jonathan sabia onde estava e porque estava naquele local, só não quis acreditar. Um local obscuro, triste, com cheiro forte de parafina de tantas velas que estavam sendo queimadas, misturando-se com o forte perfume de flores de todas as espécies e cores. Nas laterais de paredes geladas, ficavam os vultos de seus familiares e amigos. No centro um caixão branco, "enfeitado" com flores coloridas, e dentro dele estava Audrey, de olhos fechados, sem expressão ou marcas de sofrimento. Encostado ao caixão existiam várias coroas de flores e faixas com a palavra "saudade". Jonathan entrou bem devagar com a flor em suas mãos e avançou até o caixão sem dizer nada a ninguém e ninguém o interpelou. Jonathan colocou a pequena flor amarela bem perto do rosto de Audrey, deu-lhe um beijo na face e fez o sinal da cruz. Do bolso, tirou um lenço branco para enxugar suas lágrimas e um cartão, onde estava escrito "Para Audrey, com Amor!

ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

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