03 maio 2015

CARTAS PARA MINHA MÃE



Um dia destes, num domingo, sem mais nem menos, senti uma dor bem forte no peito. Minhas pernas tremiam, os olhos me faltavam, achei que ia morrer. Pensei em gritar socorro para alguém da minha família, rezar, pedir pela minha mãe... As luzes do quarto estavam apagadas, as janelas não refletiam o brilho do sol, os pássaros não cantavam e eu não conseguia ouvir o barulho da chuva como em todas as manhãs de outono.  A única coisa que me lembrava é que naquele dia era o dia das mães. De repente, me vi diante de Deus: Ele me perguntou o que eu tinha, o que sentia, porque eu estava tão angustiado e qual seria o meu pedido:

Daí, entre focos de luzes amarelas como se fossem raios de sol, eu vi tantos entes queridos me olhando e esperando para abraça-los. Com voz murmurante, eu disse a Deus:

- Eu vim buscar amor, felicidade e proteção.

Contar que a minha tristeza, com toda certeza,

Está me matando de solidão.

Eu vim abraçar minha Mãe... Posso meu Deus?

Estou com muita saudade e sonho com ela todas as noites!

Sei que ela olha por mim, que também sente saudade e que um dia vamos nos encontrar.

Mas agora, neste momento, eu queria um abraço e um beijo da minha mãe e dizer que a amo!

Então percebi que a dor no peito era de saudade, que minhas pernas tremeram, mas foi de emoção e que meus olhos faltaram de tantas lágrimas em oração para minha mãe querida. As dores e as lágrimas se cessaram com o estabelecimento do amor e carinho que eu e minha mãe sempre tivemos. Assim, pude perceber que eu estava no céu, mas eu não havia morrido. Cheguei ao céu pela força da oração, da crença e do amor. Deus me deu a oportunidade de abraçar minha mãe e meus entes queridos e pude aliviar a saudade e a tristeza. A fé move montanhas, o amor que existe em nossas famílias somado à força da fé e na crença em Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo, pode nos levar ao céu e com a graça de Deus, estaremos em paz. A todo o momento que clamamos e oramos, Deus virá nos salvar! Eu creio em Deus e amo minha Mãe e minha família. E mesmo quando as lágrimas se transformarem em grandes correntezas, em ondas gigantescas de tristeza e quiserem me afogar, sei que Deus virá me buscar. Ele andará sobre as águas... Andará comigo sobre o mar...



“E como coisas de destino, voltei a sorrir como um menino, Deus tem tudo a ver com isso: Eu estava no colo da minha mãe. Isso sim é felicidade: Eu, minha Mãe, Deus e quem mais vier.”



ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

ALGUMAS PALAVRAS - VOL. IV - TODAS AS MÃES

Daquela vez ela não quis nem saber e o fez dormir fora da casa humilde, de madeiras, forrada com placas de papelão para aliviar o frio que castigava as noites intermináveis. O vento e os respingos da chuva que invadia o pequeno cômodo faziam com que o menino, trêmulo, se afagasse no corpo da mãe mesmo debilitada e drogada, bêbada igual marido zumbi moribundo, “envenenados” na loucura das drogas e do álcool. E qual exemplo teria aquele menino que assistia de olhos arregalados àqueles filmes diários de perdição, melancolia e desespero?
          Mas o menino não se cansava de suplicar a Deus para que um dia tudo aquilo pudesse acabar e quando acabasse não seria também um morador de rua como sua mãe, como seu pai, e nem estaria envolvido com aquelas drogas pesadas – sonhava com dias melhores. Ele não queria ser um menino de rua, e sim, um homem com identidade e digno para viver. Que Deus possa me ajudar, dizia o menino, pois não queria se perder feito sua mãe e não queria ser um morto vivo como seu pai. Quando o pequeno menino se deparou novamente com sua mãe completamente drogada, suja, maltrapilho, poderia ignorar, chorar, correr... Desprezar, mas sua Mãe de Rua antes de se perder o ensinou a amar, ensinou que existe amor e que o amor pode ser pequeno, grande ou infinito. O pequeno menino não tinha forças, não conseguiria tirar sua mãe das ruas apenas com seu corpo físico, mas poderia tirar com os olhos que refletem e refletiam o amor através do coração, e isso ele conseguiu, mesmo que por um instante, até a próxima abstinência ou recaída, mas para o menino o que mais valia era “apenas” um instante de amor, para ter a certeza de que o amor existia.
          - Ó meu Deus todo poderoso e misericordioso! Eu enxergo o amor nos olhos da minha mãe, mas parece que o amor está preso, acorrentado, prisioneiro deste vício maldito. Mas as lágrimas da minha Mãe de Rua ainda pode ser o remédio da compaixão, da esperança, da perseverança. Enquanto eu tiver forças não vou abandonar a minha mãe e sei que ela está fazendo de tudo para não me abandonar, para não abandonar a si mesma, e é por isso que acredito no amor acima de tudo.
          Mas, se o amor perder a guerra, na certa eu vou chorar. Minha mãe de rua vai padecer, escafeder-se, mas mesmo assim não vou abandonar o meu Deus todo poderoso, não vou achar que meu Deus me abandonou, pois apesar de menino, eu tenho a consciência de que fiz o melhor e essa lição vou levar para a vida inteira, pois sei que meu Deus me ama e se me deu esse peso, essa sina, é porque fui escolhido como a “pessoa certa”, amém!
TRECHO DO LIVRO "!ALGUMAS PALAVRAS VOL.IV - TODAS AS MÃES"